Denise no Mundo

Estou aqui em Rishikesh, terra sagrada do rio Ganges, ou como eles chamam por aqui, Mother Ganga. O lugar é incrivelmente lindo, com montanhas, natureza e o clima de yoga que esconde um pouco o caos da Índia.
Não sei como era há 30, 50, 100 anos atrás, mas agora a oferta de milhares de escolas de yoga e a busca de turistas endinheirados é evidente.
Há construções intermináveis por todos os cantos de Rishikesh. É quase impossivel achar um lugar tranquilo e silencioso. Tudo gira em torno dos Yoga teacher trainings (treinamentos de instrutores de yoga).
Vim sem saber o que esperar. O que me trouxe aqui foi a necessidade de fazer um treinamento para ser professora de yoga, a princípio pelo meu trabalho. Eu definitivamente não planejava vir para a Índia tão cedo.

Eu trabalhava como Well-being coach num navio de cruzeiros luxuoso. Tanto meus chefes quanto os passageiros queriam que eu desse aulas de yoga. Como eu não tinha experiência nenhuma com yoga decidi vir para a Índia para aprender e me sentir mais capacitada para dar aulas básicas e curtas de yoga no navio.
Acontece que decidi me demitir do meu trabalho, apesar de ter sido o melhor trabalho que já tive, e serei eternamente grata à companhia Uniworld.
Ainda assim resolvi vir pra Índia e fazer o curso de yoga, mas preferi aprender Kundalini Yoga, que é o tipo de yoga que mais me atrai e mais gostei de fazer, até hoje.

Procurei recomendações no Tripadvisor e procurei datas que batiam com a minha disponibilidade, e acabei escolhendo o Samadhi Yoga Ashram.
O curso custa 1500 dólares, mas fazendo a inscrição com antecedência eles dão 10% de desconto. Sâo 200 horas divididas em 18 dias, com tudo incluído.
Outras escolas oferecem 200 horas em quase 1 mês de curso. Eu recomendo escolher essa última opção, porque é bem puxado acordar todos os dias às 4h30 pra começar a meditação às 5h, terminar as aulas às 19h45, jantar e ir dormir às 21h30.
Pelo menos metade dos meus colegas ficaram doentes na metade do curso e outras faltavam às aulas para descansar. Eu parei de levar as aulas tão à sério quando vi todo mundo faltando e ficando doente. E faltei em algumas poucas aulas também (me sentindo muito mal, porque eu queria ser certinha).
Os professores são MUITO bons. Todos tem muito conhecimento e experiência. Alguns deles são yogis de verdade, que passaram 20 anos em Ashrams.
E gostei muito dos funcionários da escola também. Da gerente, do cozinheiro, e do staff em geral.

Almoço no Ashram

Cerimônia de abertura

Jardim da escola

Essa é a estrutura do curso para todos os dias, exceto domingo:
5h - Meditação
6h - Aula prática de Kundalini yoga
8h - Pranayama
9h15 - Café-da-manhã
11h - Filosofia do Yoga
12h15 - Alinhamento e ajustes de asanas
13h15 - Almoço
14h20 - Anatomia e fisiologia
15h45 - Aula teórica de Kundalini
17h - Vinyasa flow
18h45 - Meditação
19h45 - Janta

Todo conhecimento que aprendi ali me será útil a vida toda. Rezo todos os dias para ter disciplina para praticar asanas, pranayamas e meditação todos os dias.
Faz muita diferença no dia você fazer ou não fazer essas práticas.
A comida no ashram era muito boa. Eu comia com prazer todos os dias. E a comida não era tão diferente do que como no Brasil. Arroz, lentilhas, feijões, legumes, salada, pão etc. O que muda e muito é o tempero, claro. Super gostoso. Sentirei falta da comida daqui.
O ponto negativo do curso e que pesou muito para todos nós é a estrutura do curso, que não foi planejada como esperávamos. Por dia, só tínhamos 2 aulas voltadas à Kundalini yoga.
Todo o resto eram aulas de yoga em geral, de outros estilos, com: "alinhamento e ajuste de asanas", filosofia do yoga, anatomia e fisiologia do yoga, vinyasa flow, pranayama, meditação etc. Só tínhamos uma aula prática de kundalini por dia, em que não podíamos parar para anotar porque era completamente prática (e maravilhosa).
A professora é uma deusa, e eu tive uma visão dela antes de vir pra Índia. Fiquei muito emocionada com a visão e tenho quase certeza que ela é minha irmã de alma.
Pouco a pouco fomos nos apegando aos professores e aos colegas. Nos amávamos mutuamente. Nos ajudávamos. Nos divertimos muito!
Estávamos todos ali com o objetivo de expandir a consciência, ser UM com o Universo, trazer o bem-estar a nós e aos outros através do Yoga, sermos felizes e saudáveis no corpo, mente e alma.
Havia pessoas ali com 20 anos de experiência com o yoga. E tinha pessoas como eu que nunca praticaram de forma sistemática.
Tínhamos 1h30 de pausa durante o café-da-manhã, e quase todos os dias saímos com pressa para ir pras lojinhas e comprar coisinhas exóticas.
Ou só andar por aí, tomar sol.

Aula de filosofia do yoga

Aprendendo os ajustes da posição "easy bow"

Eu sendo esmagada por 6 coleguinhas

Indianos sempre pedem pra tirar foto com turistas hihihi

Estava muito frio (o curso foi em dezembro). Todos sofreram bastante com isso. Foi bem dificil fazer meditação e pranayama às 5h com um frio penetrante de uns 6 graus dentro da sala.
Se bem que eu até me divertia vendo a fumacinha saindo da minha boca quando eu falava ou respirava. Mas algumas pessoas ficaram extremamente perturbadas com o frio. Às vezes não tinha cobertor suficiente para todos.
Parece que o lugar que fizemos o curso é alugado, e o Samadhi original é do outro lado da ponte e é bem estruturado, porém havia uma reforma acontecendo do lado, e por isso não fizemos o curso lá.
O lugar era bonito, com jardim, horta, vista da montanha, e com a vaca Mumu (nome dado por mim) e seu filhote.
Mas o meu quarto...bom...no site e por e-mail me prometeram um quarto grande, espaçoso e com varanda. Meu quarto era no meio do prédio, sem janela, frio e muito úmido. Minha toalha nunca secou. O quarto dos outros era melhorzinho, mas não muito. E os outros tinham varanda também.
Mas acho que os quartos que prometeram no website era do lugar original, não desse alugado.
Minha companheira de quarto era uma francesa simpática e que sempre passava por situações únicas e engraçadas (infelizmente não posso citar aqui hehehe).
Algumas pessoas chegaram dias depois do curso começar, e outras foram embora antes do curso terminar. Eu não faria isso, porque gosto muito da cerimônia de abertura e de encerramento. Acho interessante rituais de outras culturas. Apesar de não entender quase nada do que tá acontecendo,
respeito muito e sigo as instruções.

Tivemos que tomar muito cuidado com os macacos que vivem na região do Ashram. Eles roubaram vários sapatos (porque temos que deixar fora da sala), entraram no quarto de algumas pessoas e fizeram uma super bagunça, fizeram cocô, roubaram coisas etc. Eles "causavam" muito. Ficavam passeando do lado da janela durante a nossa aula, batiam no vidro, tentavam entrar na sala, entre outras travessuras. Eles são fofinhos mas perigosos.

Durante o curso fizemos duas excursões: uma numa caverna à beira do rio Ganges, onde muitos yogis passaram centenas de anos meditando (segundo a história contada aqui); e outra num templo de uma deusa hindu bem pertinho dos Himalayas, pra ver o nascer do sol. Amamos as excursões. Foi ótimo estarmos todos juntos, sem ser em aula, e aí pudemos conversar durante horas e sem interrupções. E em lugares mágicos.

Caminho para ir à caverna, entre as montanhas

Na volta da caverna, ficamos um tempão presas no trânsito, aí colocamos música alta e ficamos dançando fora do carro

Entrada da caverna Vasishta Guha-An

No Ganges em frente à caverna

Passeio de tuk tuk

No primeiro dia com horas livres fomos pro centro conhecer e fazer compras

Tivemos uma aula de dança indiana fusion com Sujataray ,uma deusa viva que foi semi campeã do India's Got Talent!!! Ameiiiiiiiiiiiiiiiii

Realmente tem vaca em todos os lugares em Rishikesh hahahaha

Pra ser bem sincera, não senti a "espiritualidade" durante o curso. A escola é bem voltada ao business, apesar de os professores serem incríveis.
É tudo baseado em dinheiro e status hoje em dia. O dono da escola é simpático e ele tem várias escolas em Rishikesh e em outros países. Há fotos dele espalhadas por toda a cidade.
Acho que eu fui mais uma turista achando que ia ter uma experiência sagrada num Ashram meio escondido, aprendendo uma sabedoria milenar.
Um professor me disse que apenas 1% dos indianos praticam yoga. Há mais pessoas praticando yoga nos EUA do que na Índia.
A espiritualidade se está esvaindo desse lindo lugar. Quem consegue sentí-la aqui é porque já está conectado com o Universo, com o yoga ou talvez por um efeito placebo, porque sempre ouviram que Rishikesh e o rio Ganges são sagrados e podem mudar a sua vida se você vier. Os professores mencionam isso com um grande pesar.
Obs: não conheci todos os lugares e Ashrams em Rishikesh. Estou falando de forma geral algo que muitas pessoas comentam, inclusive pessoas locais.
Apesar da grande comercialização do yoga, Rishikesh é um lugar único, que traz muita paz e beleza para os olhos e para o coração. Ainda há uma magia rolando por aqui, que nos faz querer voltar o quanto antes. É fácil passar 1 mês aqui. Só aproveitando o momento, relaxando nos muitos cafés fofinhos pela cidade, conhecendo outros turistas que vieram aprender yoga, conhecendo pessoas locais interessantes, fazendo aulas de yoga, indo a kirtans cantar mantras, comendo comidas deliciosas etc.

Atenção: cenas fortes no próximo vídeo hahaha

Eu fazendo o Jalaneti pela primeira vez. A água entrou em todos os buracos internos do meu corpo. No meio da tarde ainda tinha água escorrendo do meu nariz hahaha =(

Nos empolgamos durante o Kirtan organizado pela escola. Tive um pedacinho da Festa Junina na Índia

Kirtan animado

O que realmente mudará a sua vida é colocar em prática tudo o que aprendeu aqui. E olhar pra dentro. Não importa se você está em Jerusalém, se banhando no rio Ganges, ou na Amazônia etc, se não olhar pra dentro. Você não vai encontrar Deus em lugar nenhum se não encontrá-lo dentro de si.
E como encontrar Deus dentro de si? Através da respiração, da meditação, de orações, de cantos sagrados (mantra). Através do silêncio e da prática espiritual.
Os professores sempre mencionam como muitas turistas vem achando que yoga é só asanas. Cuja maior glória é postar fotos de asanas difíceis no instagram e ganhar milhares de likes.
Falando em asanas, tenho bastante dificuldade em fazer muitos deles. Mas fiquei feliz de facilmente realizar o headstand (ficar de ponta cabeça com a cabeça e antebraços no chão).
O yoga não é sobre se comparar com os outros e ser o melhor. É um desenvolvimento pessoal. Respeitando os próprios limites.
O kundalini yoga não tem muitas posições difíceis de realizar. Exige muita concentração e respirações específicas. Fizemos até danças das deusas hindus!! Amei amei.
Um dia marcante foi quando fizemos um ritual de cura do útero. Cura do feminino.
Definitivamente kundalini tantra yoga é pra mim. Consigo facilmente me imaginar dando esse tipo de aula.
Nosso professor de anatomia/fisiologia é PhD em algo relacionado a neurologia e ele citava muitos artigos científicos sobre as práticas do yoga. Foi tão tão lindo pra mim aprender sobre os benefícios de cada asana e pranayama. Me motivou muito. Sou o tipo de pessoa que na maior parte das vezes precisa de comprovação científica para fazer algo. E há muitasssss comprovações dos benefícios do yoga. Estou plenamente convencida a praticá-lo agora hehe.

Nossa cerimônica de encerramento foi linda. O tempo estava ótimo: céu azul e sol. Foi um momento muito feliz receber o certificado pelas mãos do dono e dos nossos professores.
Criamos uma conexão profunda entre nós e com alguns professores. Somos uma família agora. Dos 4 cantos do mundo. Algumas pessoas ali estavam fora do seu país natal pela primeira vez na vida. Foi bem marcante pra grande maioria.
Saio daqui com um sentimento enorme de gratidão ao Universo, Deus, anjos, guias espirituais, mestres, professores, colegas, Índia, Rishikesh, Pachamama etc. A tudo tudo tudo.
A gratidão pura do meu coração e da minha alma sempre me leva aos lugares e situações mais maravilhosas.
Agradeço pela minha vida e por todos que nela estão, estiveram ou estarão.

Hari Om Tat Sat

obs. me avisem se vocês quiserem dicas de lugares fofos pra ir em Rishikesh, pra comer ou simplesmente relaxar, que aí faço outro post sobre isso.